Um dia você está bem, vivendo sua vida normalmente, e no dia seguinte se vê preso a uma cama sem conseguir se mexer ou entender direito o que acontece ao redor. Para piorar: depende de ajuda para sobreviver, que não vem porque não consegue uma perícia no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que comprove sua situação. Parece um pesadelo? Mas não é. Essa é a vida de Peter Phelipe Nunes de Lucena, de 34 anos, morador de Resende (RJ). Ele trabalhava como motoboy quando sofreu um acidente em novembro do ano passado, no bairro Vila Julieta, e sofreu traumatismo craniano. Após dois meses internado entre o Hospital de Emergência e a Santa Casa, recebeu alta, mas nem por isso as coisas ficaram mais fáceis. Desde então Peter vive em estado vigil. Ele acorda, dorme e até consegue ouvir, mas tem total dependência da mãe, inclusive para ajudar na criação de suas duas filha, de três e sete anos. “Ele era forte, malhava, corria… Inclusive no dia do acidente ele correu um pouco antes de ir trabalhar. Ele fazia bastante exercício”, conta Raquel Regina Nunes, mãe do ex-motoboy, que viu também a própria vida transformada com o acidente. “Eu não posso ficar longe, não posso ficar saindo de casa, porque eu tenho um paciente acamado, tenho que ficar com meu paciente. Não tenho cuidador, não tenho ninguém que me ajude. Sou eu e meu marido só”. Raquel é professora de formação, mas saiu do emprego para cuidar do filho, que precisa de ajuda para tudo no dia a dia — até para virar na cama. Já os auxílios médico e financeiro vêm da boa vontade de amigos, de doações e da prefeitura, que fornece tratamento semanal com fonoaudióloga, fisioterapeuta e enfermeira. Porém, isso não é suficiente. 1 de 1 Peter Phelipe com as filhas antes do acidente — Foto: Reprodução/TV Rio Sul Peter Phelipe com as filhas antes do acidente — Foto: Reprodução/TV Rio Sul Para garantir os cuidados que Peter precisa, a família tenta o auxílio do INSS desde novembro de 2020, mas fazer a perícia tem sido uma verdadeira luta. Conseguiram marcar uma para maio em Guaratinguetá (SP), mas ao chegar lá descobriram que a perícia seria feita em casa. “Eu aguardei 20 dias, ninguém ligou. Aí eu liguei para o 135 e eles disseram que não tinha nada lá, não tinha nenhum pedido de perícia, nada. Eu falei assim: ‘Mas eu preciso de uma perícia residencial para o meu filho’. Aí ficaram de marcar, marcar… Isso até semana passada, quando falaram: ‘Olha, a senhora precisa ir à agência de Barra Mansa’ “, lembra Raquel. No dia 6 de julho, Raquel e o filho, mesmo acamado, compareceram ao INSS de Barra Mansa (RJ) com ajuda de uma ambulância da prefeitura de Resende, que fez o transporte. Porém, na agência de Barra Mansa não tinha ninguém para fazer a perícia: funcionários apenas recolheram documentos. Mais uma vez a família voltou para casa sem resposta e sem perícia. Para piorar, até hoje Peter não recebeu o Seguro DPVAT (Danos Pessoais por Veículos Automotores Terrestres), que dá direito a indenização às vítimas de acidentes. Enquanto espera, Peter se recupera de uma traqueostomia e de escaras no corpo, que são feridas provocadas por ficar muito tempo deitado. Quando melhorar, deve realizar um tratamento na Rede SARAH de Hospitais de Reabilitação, instituição pública que presta serviços de saúde, e talvez tenha chances de voltar a ter uma vida minimamente normal. Até lá, e mãe mantém a fé. “Eu sei que vão ter sequelas, mas que ele consiga virar na cama, que ele consiga reconhecer a gente… Eu tenho expectiva de coisas boas, a gente tem que pensar em coisas boas. A gente tem que ter fé “, conclui Raquel com esperança. Em nota, o INSS disse através da Subsecretaria de Perícia Médica Federal que já fez contato com a chefia na região e que, muito em breve, Peter será periciado em casa. Contudo, não informou quando isso vai acontecer.
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